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Tomie Ohtake

Abertura
27 de novembro de 2009

Horário
19 às 22h

Exposição
28 de novembro a 30 de dezembro

Tomie Ohtake pintou a primeira tela aos 39 anos de idade, está com 96 anos, em plena atividade, concretizando uma vontade que tinha desde a juventude. Se este início demorou a chegar, a maturidade trouxe rapidamente as diferentes fases de trabalho: a passagem do figurativismo para o abstracionismo, a primeira exposição individual e a gradativa profissionalização obtida com a venda de seus trabalhos e o espaço que a pintura passou a ocupar em seu cotidiano.

Para o crítico Paulo Herkenhoff “A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral, tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar em nosso olhar um haicai perdido”.

É este trabalho em pintura, gravuras e esculturas que a Paulo Darzé Galeria de Arte (Rua Chrysippo de Aguiar, 8, Corredor da Vitória, (71) 3267.0930 Cel.: (71) 9918.6205 – www.paulodarzegaleria.com.br – paulodarze@terra.com.br) mostra a partir do dia 27 de novembro, às 20 horas, com temporada até 30 de dezembro, aberto a visitação de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas.

Nascida no Japão, em Kyoto, em 1913, Tomie Ohtake chega ao Brasil, São Paulo, aos vinte e três anos. Inicia seus estudos de pintura em 1952, com o artista plástico japonês Keisuke Sugano. Em 1953, integra o Grupo Seibi ao lado de Flávio-Shiró, Kaminagai, Manabu Mabe, Tikashi Fukushima, entre outros. Sua primeira exposição individual realizou-se em 1957, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1969, começa a trabalhar com serigrafia e posteriormente executa litografias e gravuras em metal. Realiza também diversas obras públicas, como o painel pintado no Edifício Santa Mônica, na Ladeira da Memória, em São Paulo; a escultura Estrela do Mar, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro; a escultura em homenagem aos oitenta anos da imigração japonesa no Brasil e painéis para o Memorial da América Latina. Em 1974 e 1979, ganha o Prêmio Melhor Pintor do Ano. Em 1983, o Prêmio Personalidade Artística do ano da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1995 recebe o Prêmio Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura. Em 2000, é lançado em São Paulo o Instituto Tomie Ohtake.

“Usufruir uma obra de Tomie Ohtake propicia uma dupla experiência – incita a reflexão, num movimento primordial de subjetivação; e estimula os sentidos, em direção às coisas externas do universo. A produção desta artista vem deixando inúmeras pistas para o olhar e o significado da sua obra. Uma das possibilidades de leitura é oferecida pela presença de uma dimensão cósmica nas suas pinturas, que vem se manifestando desde o início da sua trajetória, mas que exacerba naquela realizadas a partir dos anos 90”, diz Miguel Chaia, professor e editor.

A trajetória de Tomie teve um ritmo constante e, dez anos após seu início, receberia o apoio decisivo do crítico Mário Pedrosa, recebendo prêmios no Museu de Arte Moderna, e participando da Bienal de São Paulo de 1961. Com um caminho bem definido na pintura, movida pela curiosidade, passou a realizar gravuras com certa regularidade: inicialmente serigrafia, alguns anos depois litografia e, na segunda metade dos 80, metal. O crítico Olívio Tavares de Araújo daria uma grande importância à gravura na obra de Tomie Ohtake, afirmando que em muitos casos as gravuras constituem a experiência que antecipa as pinturas.

Embora Tomie considerasse a gravura uma atividade complementar, acabou sendo convidada para as Bienais de Veneza e Tóquio. As tiragens dessa gravura serviriam para expor, em 1987 e 1993, simultaneamente em dez capitais brasileiras, entre elas Salvador, na Paulo Darzé Galeria de Arte. “Desde o início dos anos 80” escreve Agnaldo Farias, “Tomie Ohtake vem sendo considerada nossa maior artista, a primeira-dama de nossas artes, sobretudo a partir de 1983, quando então se organizou sua primeira grande retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo, tendo como curador Pietro Maria Bardi… Consagrada como a pintora que ofereceu a nossos olhos algumas das possibilidades do espaço cromático, ela salta do plano da tela para dar um novo impulso a sua produção escultórica. Expressão que ela freqüentava episodicamente, a escultura passa a dividir com a pintura o foco de sua atenção”.

Nesta trajetória veio a incorporar outras linguagens, como a poesia, além de uma série de procedimentos inovadores, como o recorte de uma das imagens já impressa e sua posterior aplicação numa nova matriz; na projeção de luz nesta imagem recortada cria-se uma sombra deformada que se torna o embrião de um novo trabalho. O espírito inquieto e concretizador da artista abriram a oportunidade de realizar obras no espaço urbano, tanto painéis como esculturas. Suas esculturas receberam convite pelo curador Nelson Aguillar para uma sala especial na XXIII Bienal de São Paulo.

A pintura, que nos últimos cinquenta anos vem sendo o alvo constante e diário das atividades de Tomie Ohtake, prossegue levantando novas questões referentes não só aos aspectos formais e técnicos, de execução como também às posturas especificas na forma de pensar e projetar uma tela. A contribuição estética de Tomie Ohtake construída no decorrer de uma longa e singular trajetória, sua atuação em diversas linguagens, das artes gráficas à cenografia, o reconhecimento unânime da crítica brasileira, o prestigio que desfruta junto ao público em geral, a aceitação no mercado de arte são alguns fatores que vieram a criar em 2000 um Instituto com seu nome.

Para o crítico Frederico Moraes, “Diante da sua pintura, o crítico vive um permanente desafio: ou fala de pintura, ou deve recolher-se. Com efeito, em suas telas, Tomie Ohtake não descreve situações vividas ou sonhadas, não comenta nem recria a realidade à sua/nossa volta, não avança para análise sociais ou políticas, não é nem confessional nem autobiográfica. Assim, não há nada em que o crítico possa agarrar-se para escapar ao desafio de falar de pintura. Mas falar da pintura de Tomie é falar, antes de tudo, da forma. É dela que nos recordamos quando pensamos em sua pintura. Ao longo de meio século de uma criatividade ininterrupta, Tomie Ohtake criou um riquíssimo vocabulário de formas, as quais, continuadamente re-elaboradas e ressignificadas, a partir de um núcleo básico, constituem o fascínio permanente de sua obra. A cada nova etapa, a artista recorre às mesmas formas e/ou estruturas formais, cuja semântica, entretanto, se modifica graças às novas relações cromáticas, matéricas e espaciais que ela busca estabelecer”

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